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.:: Sérgio Azevedo PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Sexta-feira, 21 de Outubro de 2022 // 18:00 h

Sérgio Azevedo Pela primeira vez na sua já longa carreira, Sérgio Azevedo – cuja formação inicial incluiu o piano, que nunca abandonou – convida-nos a conhecer – pelas suas próprias mãos – dois importantes ciclos pianísticos que escreveu para si próprio durante a pandemia: o “Álbum de Leoš Janáček” e “Mazurki”. Ambos lidam com a memória, a vida e a morte, e ambos remetem para o universo íntimo do compositor. O evento é gratuito. A entrada no Museu faz-se através do bilhete normal (3 EUR), com os habituais descontos aplicáveis.

 

Estas peças, na sua grande maioria lentas e meditativas, com ocasionais lampejos violentos e abruptos, foram concebidas para espaços com acústicas amplas, como igrejas e contextos semelhantes, características que não costumam estar associadas à maioria dos locais onde costumamos escutar recitais de piano. Porém, é precisamente isso – um mero recital – que este projeto não é, pretendendo, ao invés, proporcionar aos ouvintes uma experiência sensorial, hipnótica, na qual tudo converge para um foco de som e um foco de luz: um ser humano e o seu piano, através do qual a sua vida sentimental, vivências e memórias são reveladas, pelo filtro da música, aos ouvintes.


PROGRAMA

Notas de Sérgio Azevedo

 

Foi pouco depois de gravar para a Naxos as seis peças agrupadas sob o título Hukvaldy Cycle, todas baseadas em fragmentos de obras de Leoš Janáček, que me lancei a um outro projeto relacionado com o compositor moravo, desta vez não baseado em fragmentos retirados das suas obras mas antes em evocações poéticas do seu universo particular.

 

Conseguira por essa altura (2021) adquirir o facsimile do Álbum de Kamila Stösslová publicado na década de 90 do século XX pelo Museu de Brno, álbum que contém vários fragmentos e peças nunca publicados de outra forma, e decidi emular esse álbum de miniaturas e fragmentos de peças nunca terminadas, com o meu próprio álbum de homenagem ao compositor.

 

Evoco assim nestas 15 miniaturas vários aspetos da personalidade, obra, vida, amigos e paixões de Janáček. De Kamila aos animais da floresta (corujas, raposas, esquilos, insectos…), do ciclo da vida e da morte ao entusiasmo pela música e pela fala dos camponeses moravos, tudo isso é evocado sem recorrer a nenhuma citação direta de Janáček ou de música popular mas recorrendo tão-somente ao espírito desses elementos e ao meu amor pela música e personalidade do compositor.

 

A ele se juntam outros checos notáveis que há muito fazem parte do meu universo intelectual, estético e sentimental: Milan Kundera, Franz Kafka, Max Brod, os irmãos Čapek, Jaroslav Hašek, e o fotógrafo sem um braço, Josef Sudek.

 

Álbum de Leoš Janáček (2021-22) [Estreia Absoluta]
I. O Canto da Coruja
II. Os irmãos Čapek
III. Elegia para M.K. e K.
IV. Morte
VI. Em memória de Josef Sudek
VII. Kamila Stösslová (Pisék)
VIII. Idílio
X. Fanfarras longínquas (para Max Brod)
XI. A insustentável leveza… (Tomás)
XII. Perda indescritível
XV. Vida

 

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Nos finais dos anos 80 e inícios dos anos 90 visitei com frequência a Polónia, na altura ainda a braços com a resistência do sindicato de Gdansk, “Solidariedade” e o consequente fim do regime comunista, e essas visitas abriram-me os ouvidos quer para a arte de Chopin, que até aí pouco significara para mim – não obstante ter estudado algum piano – e que se transformará num dos meus compositores essenciais, quer para a Escola Polaca do pós-Guerra, através das gravações que descobri na biblioteca do então Instytut Fryderyka Chopina (Varsóvia), nomeadamente, as dos muitos festivais “Outono de Varsóvia” em arquivo.

 

A música de Penderecki, Panufnik e Lutoslawski já me era familiar, mas desconhecia por completo a de Kilar, Górecki, Szymanski, e a de muitos outros compositores. Curiosamente, o elo fulcral entre o romantismo de Chopin e as vanguardas – a música de Karol Szymanowski – só foi descoberto por mim alguns anos mais tarde.

 

De Chopin, e de entre todas as suas obras, sempre coloquei no topo do seu génio as 57 Mazurkas, e foi através delas que descobri as vinte e duas Mazurkas dos Opus 50 e 62 de Szymanowski, seguidor natural de Chopin na sua mescla de folclorismo e modernismo na primeira metade do século XX. Também com Szymanowski as primeiras obras de Lutoslawski, Panufnik e as de muitos outros ficavam assim “explicadas”, bem como as obras escritas a partir dos anos 70 e inspiradas pela música “Goral” das montanhas dos Tatras, da autoria de Kilar e Górecki. Szymanowski era a ligação, a ponte que faltava.

 

Por causa da pandemia, que nos obrigou a permanecer em casa e a renovar certos conceitos, quer de fazer e transmitir música, quer mesmo em termos da sobrevivência de uma atividade que é, em grande parte, pública, recomecei a tocar piano. Nunca tendo sido um “virtuose”, ainda assim cheguei a um certo nível no instrumento, pelo que resolvi escrever, tal como no início da minha carreira, algumas obras para mim próprio. Surgiu assim o Álbum de Leoš Janáček, em 2021, e em 2022 Mazurki, 20 peças que revisitam, depois dos exemplos de Chopin e Szymanowski o legado dessa dança, que identifico com a Polónia e com os meus tempos de juventude nesse país, nomeadamente os passados na Masuria, a região dos lagos a Nordeste de Varsóvia (em particular Jezioro Wałpusz, e a aldeia de Przytarnia próxima do lago Wdzydze), região de onde provém aliás a Mazurka e onde se encontra também a casa natal de Chopin, em Żelazowa Wola.

 

Parti assim, de certa forma, e num contexto mais simples, do ponto onde Szymanowski ficou. As harmonias cromáticas, bordões de quintas, e outras técnicas que se encontram já em Chopin e em maior escala, naturalmente, em Szymanowski, junto com toda a experiência dos 80 anos que decorreram entre a morte do compositor e a atualidade, dão as mãos a uma estilização da dança que, por vezes, a transforma apenas numa vaga memória, numa evocação longínqua. A maioria das Mazurkas é lenta, e nenhuma delas cita melodias populares genuínas. O que se ouve são fragmentos, memórias envoltas em ambientes oníricos, aqui e ali por vezes cortados cerce por contrastes dinâmicos súbitos.

 

O compasso ternário e as acentuações nos 2.ºs e 3.ºs tempos, bem como algumas características melódicas da música popular polaca mantém-se em grande parte delas, mas, sempre dentro de um ambiente rítmico e de fraseado muito livres que, parecendo até por vezes improvisado, é totalmente notado na partitura mas conta com o intérprete para o usar dessa forma livre, como já acontecia no Álbum de Leoš Janáček. As únicas duas mazurkas que citam diretamente uma outra peça são as n.º 4 e n.º 16, na primeira da qual uso o início da Mazurka opus 67 n.º 4 de Chopin, e na segunda a melodia e cadência do início da parte final do Stabat Mater de Szymanowski.

 

Mazurki (2022) [Estreia Absoluta]
I.
II.
III.
IV. A Frederic Chopin
VI. A Andrzej Panufnik
VII. A Wojciech Kilar
VIII. A Witold Lutoslawski
XI. A Henryk Mikolaj Gorecki
XII.
XIII.
XIV.
XV.
XVI. A Pawel Szymanski
XVII.
XIX.
XX. A Karol Szymanowski


SÉRGIO AZEVEDO (compositor) nasceu em Coimbra, Portugal, em 1968. Estudou com Fernando Lopes-Graça na Academia de Amadores de Música e na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) com Christopher Bochmann e Constança Capdeville, onde concluiu o Curso Superior de Composição com nota máxima. Ganhou vários prémios nacionais e internacionais, entre os quais o “United Nations Prize” e o “Prémio Autores” (SPA) de 2010, e as suas obras são regularmente encomendadas e tocadas por prestigiosos intérpretes e orquestras, estando presentes em mais de 50 CD’s.

 

Publicou três livros, "A Invenção dos Sons", "Olga Prats – Um Piano Singular" e o “Guia dos Jovens para a Composição Musical”. Escreve para o "The New Grove Dictionary of Music and Musicians" e, desde 1993, tem criado centenas de programas radiofónicos para a RTP – Antena 2.

 

Sérgio Azevedo é Doutorado pela Universidade do Minho e, desde 1993, professor de Composição e Orquestração na ESML. A sua música é publicada pela AVA – Musical Editions (www.editions-ava.com).