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.:: Entrevista a Norberto Lobo PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Por Helena Miranda / Fot. Vera Marmelo
Norberto Lobo (fotografia de Vera Marmelo) "O instrumento musical deve tornar-se uma extensão do músico. Isso é o que eu gostaria para mim, um dia."
Norberto Lobo


Quem te ensinou a tocar tão bem viola?
Ninguém e muitas pessoas. Fui aprendendo um bocadinho com os meus irmãos e com os discos que ouvia…

Os teus irmãos também são músicos?
Sim, são todos músicos, sendo que o mais activo é o meu irmão a seguir a mim, o Manel, com quem eu tenho uma banda (os Norman). Mas os outros tiveram todos bandas, também.

E nunca tiveste aulas de música?
Tive passagens muito breves por escolas, mas já depois de saber tocar.

Com que idade começaste a tocar?
Por volta dos oito, mas não sei bem precisar. Não me lembro. Sete, oito, por aí.

No teu gosto pessoal encontram-se os grandes guitarristas norte-americanos (da editora Takoma, por exemplo ou o Jim O’Rourke), mas também Carlos Paredes ou Ravi Shankar. Não há propriamente uma tradição específica à qual pertenças…
Sim, não me sinto vinculado a nenhuma em especial.

Aliás, a editora onde gravaste o “Pata Lenta”, a Mbari, é composta por um grupo de artistas muito pouco rotuláveis como tu…
A Mbari é uma editora muito boa, ainda bem que apareceu. Tem um talento especial para congregar artistas interessantes e fazia muita falta, antes de existir. Além de que é a editora da Lula Pena e só isso basta para a justificar.

Vi um video no Youtube em que os Tigrala tocavam com a Lula Pena. E sozinho, já tocaste com ela?
Sim, já tinha feito umas poucas de músicas com ela, sem os Tigrala.

Mas esse material está disponível?
Não… (risos). Há uns videos no youtube, mas nunca chegámos a gravar nada.

A generalidade dos álbuns dos artistas da Mbari têm uma produção que não tenta disfarçar uma certa crueza. Há muito improviso nas tuas gravações?
No meu caso há uma grande misturada entre improviso e composição. Há algumas músicas que são essencialmente improviso e outras essencialmente composição. Outras que são as duas coisas…Em alguns casos já tenho a composição completamente decorada, mas muda sempre, porque eu não sou capaz de tocar o mesmo duas vezes, descubro sempre uma coisa nova. Há outras músicas que são totalmente improvisadas, como por exemplo a “Zumbido Azedo”. Foi gravada num pátio. Eu comecei a tocar e o Eduardo Vinhas (do Estúdio Golden Poney) ouviu, foi a correr buscar um microfone e gravou aquilo. No entanto, e embora a Mbari tenha este pendor mais acústico, os nossos discos exigem imensa produção. A fórmula não é mais fácil do que num disco de música electrónica. Os discos da Lula Pena têm imensa produção, os do B Fachada também… e, na verdade, os de todos os músicos desta editora.

Como te surgiu a ideia de fazeres uma versão de Björk (“Unravel”, do álbum “Pata Lenta”)?
Gosto muito dessa canção e o processo foi natural: um dia comecei a tocá-la. Basicamente tentei tocá-la como ela é, mas sem ouvir o original. Ou seja, tentei tocá-la como me lembrava dela da adolescência. A minha versão é, no fundo, eu a brincar com a memória.

Muitas das tuas músicas parecem-me uma espécie de repetição que se transforma em variação. Por exemplo, a “Festa do Fim da Folque”.
Eu gosto muito da repetição, duma maneira geral. Gosto muito do estado de espírito que a repetição induz. Além disso, ouvia muito minimalismo, Steve Reich e assim… se calhar isso também passou um bocado para a minha música.
(É uma boa resposta?)

 

(Sim, é uma boa resposta...)

Vês-te como um artista original, ou sentes que deves muito aos músicos que ouves?
Essa coisa da repetição de que falámos não é nada original. Acho que não sou nada original.

Não deixa de ser engraçado que o grupo de artistas que a Mbari reúne seja evidentemente um grupo de artistas muito originais mas, depois de ouvidos com atenção, se tornam notórias muitas influências e bastante cultura musical. Como se andassem todos um bocadinho à procura dessa variação pela repetição.
Por exemplo, o Ricardo Rocha está a fazer uma coisa absolutamente inédita na guitarra portuguesa. É uma pessoa que parece saber a tradição toda de trás para a frente, mas não está preso a ela. E, falando por mim, eu não sinto nem nunca senti nenhuma filiação por nenhuma escola, não conheço nenhum cânone. Só ouço discos e isso é a minha tradição.

Achas que a própria Mbari segue a tradição de editoras como a Takoma?
Penso que não. O critério desta editora é o do gosto pessoal dos seus donos. E têm muito bom gosto. Os projectos que alberga, embora tenham qualquer coisa em comum, são muito diferentes entre si. O que define a Mbari é que, além do bom gosto, é uma excelente editora e trabalha muito bem.

Os títulos das músicas são engraçados. Usas muitas palavras ou expressões que pertencem à cultura popular.
Eu sou um bocado mau a dar títulos. Tenho de os arranjar quando vou gravar para as músicas não serem apenas numeradas. Se bem que já quis fazer isso. Muitos títulos vêm do meu irmão Manel. Normalmente pergunto-lhe: “Como é que se chama esta música?” e depois toco um bocadinho e ele pensa durante 5 segundos e  responde um disparate. E o disparate fica. Ou seja, eu deixo que sejam as pessoas a escolherem os títulos. Se alguém me diz: “Essa música soa a não sei quê”, eu gosto da ideia de que a maneira como soa seja o título. Tenho também títulos directamente associados a lugares e pessoas.

E letras? Além das colaborações com a Lula Pena, nunca ouvi nenhum projecto teu que tivesse letras.
Mas tenho. Tenho umas canções, mas nada editado.

E és tu que cantas?
Pá, sim (risos). Ou ponho outras pessoas a cantar. Mas as minhas letras… enfim… Tenho é muitas canções vocalizadas, mas não são propriamente com letras, ou narrativas. São umas palavras que valem pelo som que produzem.

Preocupam-te coisas como “a mensagem” e “a consciência política”, no teu trabalho?
Acho que é um impossível não preocuparem. Esta é uma questão altamente complexa. Por um lado considero-me uma pessoa “voluntariamente apolítica” (não sei se isto se pode dizer), por outro, cada vida é política. Tudo o que tu decides está a favor ou contra qualquer coisa. Mas eu não penso na arte como sendo política ou não. Posso ser tocado por arte política como por outro tipo qualquer de arte. Só que se uma coisa é muito política, provavelmente já não é arte. Se tem mais política do que arte é outra coisa qualquer…

Como começaste a tocar tambura?
Um amigo meu dinamarquês que ficou umas férias em minha casa tinha uma tambura. E eu passei o tempo a tocá-la. Vim depois a descobrir que tinha sido ele a fazê-la e pedi-lhe que me construísse uma também. Ele disse que sim, mas depois não falámos durante não sei quanto tempo. Um dia eu fui à Dinamarca tocar e apareceu no concerto com uma tambura pronta para me dar. Eu pensava que ele já se tinha esquecido, mas afinal não.

Há quanto tempo fazes tournées internacionais?
Há quatro, cinco anos.

Quem são as pessoas que te contratam?
Todo o tipo de pessoas. Vou a festivais de jazz, às “ZDB’s” dos sítios, a cabeleireiros, a bares.

A cabeleireiros?
Sim, já toquei em cabeleireiros. E na casa de pessoas também. Na Europa Central há muito o costume das pessoas que têm apartamentos grandes darem concertos privados. Já toquei nessas circunstâncias e foi muito bom.

Nunca te vi a solo, mas já vi alguns concertos de Tigrala e venho notando que quer tu, quer o Guilherme Canhão, quer o Ian Carlo, têm relações muito físicas com os instrumentos que tocam. Aliás, reparei depois, através de vídeos no Youtube que, independentemente do projecto, seja Xamã, seja Tigrala, sejas tu sozinho, isso vos acontece sempre. Essa fisicalidade não equivale a coreografia, não me parece que tenha uma natureza teatral…
É muito importante teres uma relação física com o instrumento. Estou-me a lembrar de duas coisas: Vi um documentário sobre o Don Cherry (trompetista de Jazz) na televisão sueca e a certa altura ele está a tocar um instrumento de cordas que se chama, salvo erro, n’gouni, e a explicar ao repórter: “Isto é mesmo uma coisa muito física”. E depois começa a acentuar um tempo meio estranho e diz: “Isto tem de ser com o corpo, tem de ser tocado com o corpo”. Eu sempre achei aquilo lindo. E o Miles Davis também escolhia os músicos pela maneira como pegavam no instrumento, o que revela uma ciência de vida incrível, porque isso é completamente verdade. O instrumento musical deve tornar-se uma extensão do músico. Isso é o que eu gostaria para mim, um dia. E é isso que eu gosto de ver nos músicos. O Guilherme e o Ian Carlos são, sem dúvida, músicos onde esse fenómeno acontece, muito claramente. O instrumento é uma extensão do corpo deles.

Como o Maradona e a bola de futebol?
Sim, é parecido. É passares muito tempo com um objecto até ele se tornar parte de ti. Com os ciclistas é o mesmo. Alguns deles parece que já nasceram em cima da bicicleta.

Quando foi a primeira vez que pensaste: “A música está a tornar-se uma coisa séria na minha vida”?
Não sei, mas quando tinha 14 anos já sabia que era isto que eu queria fazer para o resto da vida. Quero fazer muitos discos na minha vida. E estou sempre a pensar no próximo.

Nunca duvidaste de que o teu plano pudesse fracassar, por causa do que dizem da falta de emprego entre os músicos em Portugal?
Sim, claro, mas isso não ia fazer diferença nenhuma. Provavelmente ia estar a fazer o que faço, mesmo se tivesse de trabalhar nos correios, felizmente não tenho. Todos os dias me sinto com sorte por poder tocar guitarra o dia inteiro.

Quantas horas tocas por dia?
Varia. O dia inteiro…varia mesmo…sou capaz de estar a tocar…não sei… de manhã à noite…varia. Depende das coisas que tenho para fazer. Agora não estou a tocar, por exemplo, estou aqui a dar uma entrevista.

Consegues imaginar um cenário em que não tenhas uma viola durante uma semana?
Acho possível, sim. Até já me aconselharam a fazê-lo, no entanto não considero que seja necessário até sentir essa vontade. A última vez que isso me aconteceu foi numas férias em que eu fui não sei para onde e fiquei cerca de uma semana sem tocar. Disse “nunca mais”! Foi há uns 10 anos atrás (risos). É que não sei onde hei-de meter as mãos.

Tens pudor em dizer que és artista?
Não, ser artista é como fazer pão. É uma profissão como outra qualquer, e tão útil como outra qualquer.

Guardaste na memória o concerto que os Tigrala deram o ano passado no Museu da Música?
Sim, foi muito simpático. Vocês não têm mais músicos a ir tocar aí por falta de dinheiro para os cachets. Todo o padeiro tem de receber o dinheiro pelo pão que vende. No entanto, apesar dessas questões que são transversais a quase todos os museus, o Museu da Música tem uma atmosfera muito boa para concertos. E é o Museu da Música, só o nome fala por si. Tem de haver um esforço das duas partes, julgo. E os próprios músicos também têm de estar mais informados de que podem tocar aí.

Qual foi o concerto com mais público em que já actuaste?
É capaz de ter sido no festival do Sudoeste. Toquei com o Devendra Banhart, há alguns anos atrás.

Ficaste intimidado?
Não, parecia que estava a tocar por cima do disco, em casa, foi muito bom.

E da primeira vez que tocaste?
Também não. Foi no liceu, acho. E depois, no início dos Norman, tinha eu dezassete ou dezoito anos.

Além da tambura e da viola tocas mais algum instrumento?
Toco guitarra eléctrica e baixo.

No teu projecto de música electrónica (od6)?
Nesse toco tudo menos guitarra: há um set enorme de instrumentos, piano, imensos objectos…

Tocas essencialmente de ouvido?
Sim.

Lês pautas?
De forma muito rudimentar, mas não uso.

Já estás a preparar o teu próximo álbum?
Já.

E tens data de lançamento?
Não, vai ser algures no ano que vem.

Pela mesma editora?
Em princípio... Aliás, já tenho dois álbuns preparados, um a solo e um em duo, com o João Lobo, o baterista.

Os Tigrala, que acabam de lançar um álbum ("Tigrala") também já têm material novo?
Sim, já temos também dois álbuns prontos que ainda não gravamos. Os Tigrala são uma banda muito profícua.

O que diferencia o teu primeiro álbum a solo (“Mudar de Bina”) do segundo (“Pata Lenta”)?
Diferencia-os o espaço de tempo entre eles, e tudo o que uma pessoa muda e aprende em dois anos.

A tua vida, basicamente.
Pois.

A tua vida e a tua música…
Se são a mesma coisa? Sim.

Então passemos agora a um quizz:

 

- "À la recherche du temps perdu" ou "On the road"?
"On the road", porque o outro nunca li inteiro (risos).

- Com álcool ou sem álcool?
Tem dias.

- Migas de bacalhau ou sushi?
Posso escolher os dois?

- Coentros ou salsa?
Os dois, também.

- Bairro Alto ou Alentejo?
Alentejo.

- Braga ou Nova Iorque?
As duas, sem dúvida.

- Alfredo Marceneiro ou Amália?
Os dois.

- Tom Waits ou Leonard Cohen?
Leonard Coehn.

- Bach ou Wagner?
Bach.

- Ravel ou "Unravel"?
Ravel (risos).

- Stravinsky ou John Cage?
Os dois, sem dúvida alguma.

- Sex Pistols ou Ramones?
Essa é mais difícil… Ramones.

- Damien Hirst ou Paula Rego?
Paula Rego.

- Pollock ou Duchamp?
Pollock, porque fez a capa do álbum Free Jazz de Ornette Coleman.

- Bergman ou Almodovar?
Bergman.

- Fernando Pessoa ou Cancioneiro Tradicional Português?
Cancioneiro Tradicional Português.

- Manoel de Oliveira ou Saramago?
Manoel de Oliveira.

- Cristiano Ronaldo ou Mariza?
Cristiano Ronaldo.

- Salazar ou colher de pau?
Colher de pau.

- Jogo do bicho ou jogo de xadrez?
Xadrez.

- Tom Sawyer ou Charlie Brown?
Tom Sawyer.

- Pevides ou tremoços?
Tremoços.

- Futebol ou ping pong?
Ping pong.

- Facebook ou telegrama?
Telegrama.

- Tambura ou viola?
Os dois.

- Folclore ou fado?
Nenhum.

- Índios ou Cowboys?
Índios. Esta é óbvia, não é?

- Mudar de Bina ou Pata Lenta?
Nenhum. Os dois, estou a brincar.

- Deus ou Nada?
Nenhum.