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.:: Museu Nacional da Música premiado pela APOM Print

Cravo Taskin A intervenção de conservação e restauro do Cravo Taskin, tesouro nacional do Museu Nacional da Música, recebeu no passado dia 24 de Maio, em cerimónia realizada no Teatro Miguel Franco, em Leiria, um prémio da Associação Portuguesa de Museologia (APOM). Na mesma ocasião, o Museu Nacional da Música foi ainda distinguido com uma menção especial para instituições que colocaram em evidência património das suas coleções relacionado com a Segunda Guerra Mundial, no caso pelo trabalho de inventariação do espólio da pianista polaca Eleonore Amzel. Muito obrigado pelo reconhecimento! Muito obrigado também a todos quantos contribuíram para estas distinções!

 

O processo de restauro deste instrumento foi complexo e minucioso, ao longo do qual se desenvolveu um saudável e constante diálogo com o museu e em que estiveram envolvidas equipas multidisciplinares: o restaurador Ulrich Weymar foi o autor da intervenção na mecânica do cravo; técnicos de várias áreas do Laboratório José de Figueiredo consolidaram a caixa, recuperaram o revestimento policromo e a minuciosa pintura com chinoiseries; o restaurador Geert Karman fez a harmonização e um novo jogo de saltarelos. Por sua vez, a investigadora Alexandra Lauw (Instituto Superior de Agronomia - Centro de Estudos Florestais) foi uma ajuda preciosa na datação das madeiras que compõem o cravo, através do estudo dendrocronológico que efetuou. Simultaneamente, foram ouvidos vários investigadores e conhecedores da história do cravo, assim como o cravista José Carlos Araújo. Muitas outras pessoas ajudaram também o museu neste processo. A todos o nosso agradecimento. Uma palavra especial aos nossos mecenas, em particular aos músicos, mas também ao Instituto Italiano de Cultura e à Embaixada de Itália em Portugal.

 

Na sequência deste restauro, o cravo foi já tocado em duas ocasiões por dois grandes cravistas (Kenneth Weiss e Marco Mencoboni), em concertos que integraram a temporada 2018 do ciclo “Um Músico, Um Mecenas”.

 


SOBRE O CRAVO TASKIN

 

Cravo de 1782 do construtor belga Pascal-Joseph Taskin (1723-1793), radicado em Paris, que trabalhou na oficina da família Blanchet, celebrizada por ilustres mestres construtores.

 

Pascal-Joseph Taskin fez parte da Corporação de Construtores e trabalhava para a Casa Real e para o Rei Luís XVI de França. Em 1780, na sua oficina, construíam-se cravos e pianofortes e, apesar da ligação à corte, continuou próspero e imune à Revolução Francesa, até à data da sua morte em 1793.

 

Com a Revolução Francesa foram destruídos muitos bens patrimoniais, entre os quais cravos que pertenciam a membros da nobreza. Aliado a este factor, o aparecimento do piano contribuiu igualmente para o desaparecimento gradual deste tipo de instrumento. Assim, os cravos de Pascal-Joseph Taskin ficaram reduzidos a apenas 8 exemplares, que estão espalhados por várias partes do mundo, em museus e coleções particulares.

 

O instrumento do Museu Nacional da Música tem elevado valor histórico, estético, técnico e material, por ter sido um exemplar construído a pedido do rei francês para o oferecer à sua irmã Marie Clotilde. Concebido de forma luxuosa, é considerado um dos melhores exemplos do trabalho requintado deste grande construtor.

 

Constituem elementos estéticos importantes a caixa com chinoiserie relevada e policromada de muito boa qualidade.

 

A rosácea de Andreas Ruckers, o tampo harmónico decorado com motivos florais e datado de 1636 e a inscrição “Andre Rukuers Anee 1636” no frontal, remetem partes do instrumento para uma autoria anterior, procedimento habitual na oficina de Pascal Taskin, dado que Andreas Ruckers havia sido um dos maiores construtores de cravos do séc. XVII.

 

O Cravo Taskin esteve sempre ligado a figuras relevantes da aristocracia europeia: o rei de França, que fez a encomenda do instrumento, Marie Clotilde, sua irmã, a quem o cravo foi oferecido, o rei Umberto II de Itália, obsequiado pela cidade de Turim com este instrumento musical no seu casamento e, finalmente, a Marquesa de Cadaval, que o recebeu do Rei Umberto II.

 

Os vínculos institucionais reforçam também a sua importância: a Corte Francesa, a Corte da Sardenha (por casamento de Marie Clotilde com o príncipe Carlos Emanuel IV, futuro rei da Sardenha), o Museo Civico di Arte Antica da cidade de Turim (antes de ser seu proprietário Umberto II), a Casa de Sabóia, e o Estado Português, que o adquiriu e classificou como Tesouro Nacional.